O que mais me impressionou no documentário de Heddy Honigmann foi a capacidade da classe média de definir uma estratégia de resistência que pudesse garantir a sobrevivência. Esta situação é ainda mais impressionante se pensarmos que os entrevistados pertencem à classe média, uma classe que normalmente tem aspirações de ascensão social, suportada pelos bons níveis de educação e pela obtenção de trabalho com possibilidade de mobilidade vertical. Não é por acaso que a maioria dos motoristas diz que não gosta de ser taxista, nem nunca pensou chegar até àquele ponto. Todavia, as necessidades familiares empurram para a elaboração de estratégias de sobrevivência que são tanto mais relevantes num contexto de absoluta ausência de poder político (1992 no Peru foi o ano da tentativa falhada do golpe de Estado a que se seguiu o contra-golpe autoritário de Fujimori), onde os grupos sociais são capazes, independentemente dos estímulos ou suportes do poder politico, de reagir a uma situação de crise. Estas estratégias de sobrevivência dizem também respeito às formas de tutela dos“instrumentos” de trabalho face aos roubos, como se a crise limitasse a “solidariedade” entre os trabalhadores. Além disso, o facto de deixar cair barreiras sociais tradicionais (ex. uma mulher motorista dum táxi) espelha como os modelos morais podem ser mudados ou adaptados a uma situação de crise. Finalmente, podemos dizer que mesmo esta capacidade de reacção às dificuldades da vida gera uma espera positiva, como se os peruanos soubessem poder sempre apoiar-se nas suas capacidades e potencialidades“criativas”, entre as quais está também a melancolia dos amores passados, que podem ser lembrados com uma canção.
Benedetta M. Crivelli (AA2)
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